Educação e oportunidades: 40 anos de desencontros
Joana Costa tem 79 anos e o 4.º ano de escolaridade. Duarte Meneses é um jovem licenciado em Administração Pública. São avó e neto, o reflexo de uma revolução que mudou a face do ensino em Portugal.
Continuar a estudar é um dos objetivos de Duarte. Mas, aos 25 anos, a prioridade é ajudar a avó e os pais, com quem vive. "Quando terminei o curso, a minha mãe estava desempregada e achei que devia retribuir a oportunidade que os meus pais me deram quando me permitiram ir para a universidade".
Mas, apostar na educação nem sempre foi uma possibilidade para a família. Na altura em que Maria de Jesus Meneses, filha de Joana e mãe de Duarte, era estudante, não era fácil conciliar a escola com a necessidade de trabalhar. "Apesar das dificuldades da época, tentava que os meus filhos estudassem o máximo possível. Queria que arranjassem um bom emprego", refere Joana.
Mas, apostar na educação nem sempre foi uma possibilidade para a família. Na altura em que Maria de Jesus Meneses, filha de Joana e mãe de Duarte, era estudante, não era fácil conciliar a escola com a necessidade de trabalhar. "Apesar das dificuldades da época, tentava que os meus filhos estudassem o máximo possível. Queria que arranjassem um bom emprego", refere Joana.
São objetivos que se mantêm, volvidos mais de 40 anos desde a escola que a avó de Duarte conheceu. Uma escola de transformações vertiginosas, companheira de uma sociedade em turbulência.
"A educação muda mudando. E muda não através de uma orientação precisa, mas por tentativa erro", afirma Licínio Lima, investigador no Instituto de Educação da Universidade do Minho.
São objetivos que se mantêm, volvidos mais de 40 anos desde a escola que a avó de Duarte conheceu. Uma escola de transformações vertiginosas, companheira de uma sociedade em turbulência.
"A educação muda mudando. E muda não através de uma orientação precisa, mas por tentativa erro", afirma Licínio Lima, investigador no Instituto de Educação da Universidade do Minho.
Mão-de-obra qualificada. Uma aposta que vive de avanços e de recuos. Foi num contexto de promoção da qualificação e da formação profissional que Maria de Jesus decidiu voltar a estudar. Completou o 9.º ano de escolaridade através do programa Novas Oportunidades. Uma iniciativa que tão rapidamente evoluiu como foi silenciada.
Portugal já não é um país com fortes carências ao nível da formação. O tempo de construção da democracia foi suficiente para que se transformasse num país saturado. Dos mais de 137.000 jovens desempregados, 21.300 são licenciados.
Esta é uma família que viveu diferentes momentos da História e que tem diferentes graus de ensino. A revolução de 1974 não só significou a democratização da escola, mas também uma mobilidade escolar crescente. Realidade que hoje pode ser questionada.
Contudo, o lema de Joana Costa - "casa de pais, escola de filhos" -, ultrapassa gerações. O respeito pelo professores é inerente a Joana, Maria de Jesus e Duarte.
Escola e família. Dois espaços que funcionam numa teia de relações complexa. Hoje, a presença dos pais nas escolas conhece uma ideia de associativismo que antes dos anos 80, do século XX, não se verificava.
Joana Costa recorda um ensino de tradições e de símbolos ideológicos. Fá-lo com a saudade no olhar. Uma saudade de quem se orgulha da estudante que foi e da escola que a acolheu. Num tempo em que em casa não havia brincadeiras, a avó de Duarte guarda memórias de quando jogava, no recreio, "à macaca e aos botões". Define-se como uma aluna inteligente, que "estava sempre sentada na frente da sala". "O professor era um presidente, era o rei", afirma, com um sorriso.
"Rezava-se sempre antes e depois da aula. Ao Sábado era para cantar o hino da escola", refere Joana. O qual, aos 79 anos, ainda sabe decor.
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Ao contrário da mãe, Maria de Jesus, de 51 anos, já não se lembra do hino da escola ou da oração que tinha de saber "sem qualquer falha". Viveu dois sistemas de ensino. Um, mais próximo do que a mãe conheceu e outro, mais parecido com o que o filho frequentou. "Logo após ao 25 de Abril, o crucifixo manteve-se, mas o retrato de Salazar foi retirado pouco tempo depois".
Duarte, que apenas gostava da disciplina de História, fala de uma escola sem cargas ideológicas ou rituais obrigatórios. O crucifixo ou a fotografia do presidente já não decoravam as salas de aula quando começou a estudar. Apenas "o murmurinho das conversas paralelas" ficou como característica mais evidente dos espaços educativos onde aprendeu.
Ao contrário da mãe, Maria de Jesus, de 51 anos, já não se lembra do hino da escola ou da oração que tinha de saber "sem qualquer falha". Viveu dois sistemas de ensino. Um, mais próximo do que a mãe conheceu e outro, mais parecido com o que o filho frequentou. "Logo após ao 25 de Abril, o crucifixo manteve-se, mas o retrato de Salazar foi retirado pouco tempo depois".
Duarte, que apenas gostava da disciplina de História, fala de uma escola sem cargas ideológicas ou rituais obrigatórios. O crucifixo ou a fotografia do presidente já não decoravam as salas de aula quando começou a estudar. Apenas "o murmurinho das conversas paralelas" ficou como característica mais evidente dos espaços educativos onde aprendeu.
Os símbolos do passado e a requalificação das escolas
A época em que estudaram foi determinante para as memórias que Joana, Maria de Jesus e Duarte guardam da escola. "Nos últimos 40 anos, fizemos profundas reformas no sistema educativo", menciona Licínio Lima. O professor diz ainda que "desde o 25 de Abril de 1974 foram ocorrendo muitas mudanças relevantes no campo da educação portuguesa".
A democratização do ensino é uma das maiores conquistas da Revolução de Abril. Ainda assim, Licínio considera que "uma escola de elites não está preparada para a massificação do ensino". E, quando se fala em indisciplina, Licínio considera que esta se trata de um problema endémico à organização escolar tradicional. "Quanto mais monocultural e hierárquica for uma escola, mais ela engendra a indisciplina", acrescenta.
A escola pública afirmou-se. Quanto mais diversificada se torna mais desafios tem de enfrentar. "O que hoje vivemos é uma tensão entre a democratização do ensino e a sua racionalização e crescente imposição do respeito pelas regras", declara Licínio Lima.
"A escola desistiu da educação dos seus jovens. Hoje dá formação para enganar estatísticas", revela Duarte Meneses, desiludido com as poucas oportunidades que Portugal lhe oferece. Neste momento, está a cumprir um estágio profissional. Depois, não sabe o que o espera. Já pensou em emigrar, sendo "sempre uma possibilidade" quando se vive na certeza de um futuro incerto.
40 anos depois da revolução, que reestruturou o sistema de ensino português, as políticas educativas fazem-se de hesitações e de tentativas. Licínio Lima alerta para uma escola pública que "está em risco, assim como a democracia". "É a ascensão da escola de interesse público, em detrimento da escola pública", acrescenta.
Vox-pop | A escola é...
A escola ainda é sinónimo de aprendizagem
A noção de escola é diferente de pessoa para pessoa. Se, por um lado, há quem aponte a sua função de socialização, por outro, há quem duvide do atual sistema de ensino. "A escola é maravilhosa, é onde se encontra a nossa aprendizagem. De certa forma, constrói a nossa pessoa", afirma Emanuel Rodrigues, de 21 anos. Já Gaspar Neves, de 45 anos, reconhece a importância da escola enquanto instituição, mas "não nos moldes em que se encontra atualmente".
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