Albertino Gonçalves, professor universitário
"Eu acreditava que a Sociologia era a salvação do Mundo"
Natural de Melgaço, em Viana do Castelo, Albertino Gonçalves prefere "o desconcertante aos cânones". O docente de Sociologia, tem 54 anos e gosta de "encontrar soluções, sobretudo se forem daquelas que surpreendam os outros".
Aos 11 anos de idade, mudou-se para a cidade de Braga. Passou a viver no colégio D. Diogo de Sousa e a estudar no Liceu Nacional Sá de Miranda. "Houve a fase em que estava adiantado em relação ao que se ensinava, depois aquela em que ligava pouco às aulas mas estudava muito e, mais tarde, a fase em que passei a acumular conhecimentos por mim próprio", afirma.
O 25 de Abril de 1974, em particular, determinou o seu percurso enquanto estudante. Naquele dia, ia ter uma aula de educação física que acabou por não acontecer. Quando soube da notícia, o seu instinto foi correr para o átrio da escola e juntar-se ao grupo que lá se formava. "As aulas deixaram de ser normais e até o meu rendimento escolar diminuiu. Eu ia para as aulas dormir e achava indecente que os professores não me deixassem fazê-lo", acrescenta.
O tempo era passado em comícios e manifestações, de altifalante na mão e com a certeza de que estava a cumprir a sua missão política. Mas, "ser 25 de Abril era mais do que isso. Era ser rock, era ser pop, era ser namoradeiro. Namorar era quase uma obrigação geracional", refere o diretor do departamento de Sociologia da Universidade do Minho.
Álvaro Domingues, primo e melhor amigo, recorda a revolução como "um tempo de reboliço em que o Albertino devorava livros e polémicas sobre filosofia política e artes".
Foi nesta lógica de rebeldia pós-25 de Abril que Albertino participou numa greve estudantil que resultou na invasão do Liceu D. Maria II frequentado, na época, só por raparigas.
A escolha da Sociologia como profissão surge da sua vontade em "mudar a sociedade". "Eu acreditava que a Sociologia era a salvação do mundo", justifica. A universidade René Descartes, em Paris, foi o local onde se formou.
Ana Moreira, aluna de Albertino Gonçalves, fala de um professor que "transmite a ideia de que a sociologia é um campo fascinante que ensina a não estar conformado".
Albertino gosta de "saborear a vida devagarinho". Não gosta "de trabalhos longos e responsáveis". "Prefiro fazer coisas que funcionem como shots", reitera.
O filho mais velho, João Gonçalves, fala de um "pai um pouco despistado, mas carinhoso" e refere a "teimosia" como a sua principal qualidade.
O estudante "inteligente, provocador e atento a quase tudo", segundo Álvaro Domingues, cedeu lugar a um professor atento aos seus alunos. Albertino Gonçalves viveu tempos de mudança, em que estudar era algo difícil de definir. Hoje, Albertino considera-se uma "pessoa melancólica", mas continua a reconhecer em si "o jovem contestatário" que, um dia, o caracterizou.
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